Se você abriu o Instagram nos últimos dias, é quase impossível não ter se deparado com algum conteúdo sobre corrida. São dicas de tênis, análises de pisada, treinos compartilhados e milhares de pessoas postando seus quilômetros percorridos. Correr virou o esporte do momento, a “academia a céu aberto” que conquista multidões.
Mas existe um detalhe que quase ninguém comenta: a corrida pode ser tão transformadora quanto destrutiva, dependendo de como é praticada. No embalo do hype, muitos iniciantes começam a correr sem orientação, sem preparo físico adequado e, principalmente, sem estratégia. Resultado: dores, lesões e frustração.
O boom da corrida e a bolha nas redes sociais
O médico, Dr. Francisco Saracuza, comenta que o crescimento das comunidades de corrida não é à toa. O esporte é democrático, acessível, barato e oferece benefícios que vão desde a melhora cardiovascular até o alívio de sintomas de ansiedade e depressão.
Porém, ao mesmo tempo em que o movimento ganha força nas redes, também cresce um fenômeno perigoso: a glamourização de práticas que podem comprometer a saúde.
Influenciadores exaltam desafios de longas distâncias, estimulam treinos diários sem descanso e promovem o consumo de géis de cafeína como se fossem solução milagrosa. O problema? Esse “pacote pronto” raramente considera as particularidades do corpo de quem está do outro lado da tela.
O lado invisível do hype: riscos que ninguém mostra
Excesso de treino: Sem descanso, músculos e articulações entram em sobrecarga, aumentando o risco de inflamações e lesões por esforço repetitivo.
Alimentação desequilibrada: Treinar em déficit energético ou exagerar em suplementos pode provocar queda de energia, desmaios e até problemas gastrointestinais.
Ausência de treino de força: Ignorar a musculação enfraquece músculos de suporte, deixando joelhos, tornozelos e quadris mais vulneráveis a impactos.
Romantização da exaustão: Correr cansado todos os dias não é disciplina, é sinal de que o corpo está em débito e pode entrar em colapso.
Nutrição: o combustível esquecido
Correr não é só sobre colocar o tênis e ir. A performance e a prevenção de lesões também começam no prato:
Carboidratos: São a principal fonte de energia. Quem corta radicalmente os carboidratos tende a sofrer quedas bruscas de rendimento.
Proteínas: Fundamentais para recuperação muscular. Sem elas, cada treino deixa microlesões que se acumulam em dor e cansaço.
Gorduras boas: Fornecem energia sustentada e auxiliam no equilíbrio hormonal.
Hidratação: Beber apenas quando sente sede é um erro. A desidratação pode reduzir a performance em até 20% e aumentar o risco de câimbras e fadiga.
Melhores decisões para a saúde e o bem-estar, desde que feito com consciência. O Dr. Francisco Saracuza aponta alguns pilares essenciais:
Comece devagar: Progredir gradualmente é o segredo. Aumentar distância e intensidade rápido demais é o principal erro dos iniciantes.
Priorize o descanso: A adaptação do corpo acontece no repouso, não durante o treino.
Associe à musculação: O fortalecimento muscular é o que protege articulações e melhora o desempenho na corrida.
Alimente-se bem: Carboidratos são combustível, proteínas ajudam na recuperação e a hidratação é indispensável.
Busque orientação médica e profissional: Avaliar saúde cardiovascular e estruturar treinos individualizados evita que o entusiasmo se transforme em problema.
Mais que um hype, uma escolha de vida
A corrida pode ser um divisor de águas para quem busca qualidade de vida, energia e clareza mental. Mas ela só cumpre esse papel quando praticada com estratégia. Caso contrário, o que começa como motivação pode terminar em exaustão.
O médico Francisco Saracuza conclui: “No fim das contas, a corrida não precisa ser só sobre performance ou sobre likes no feed. Pode ser sobre saúde, constância e prazer. Mas, para isso, é preciso lembrar: a linha de chegada mais importante não está em uma prova, mas no seu próprio bem-estar.”