Entre tantos outros significados, o esporte também representa o renascimento. É desta forma que mulheres potiguares que lutam ou lutaram contra o câncer de mama encaram o desafio de retomar o cotidiano. A canoagem foi a modalidade esportiva escolhida por elas.
A prática desta modalidade, que mantém o atleta sempre em contato direto com a natureza, reduz o linfedema, quadro que se instala nos braços, no pós-mastectomia, e a reincidência do câncer de mama.
Os benefícios da canoagem para o tratamento do câncer foi descoberto em 1996 pelo médico canadense Donald McKenzie. Quem pratica o esporte diz se tratar de um estilo de vida, além de recuperar a auto-estima.
“Fiquei com algumas limitações no braço da mama operada. Pratiquei várias atividades, como academia, muay-tay… mas, foi na canoagem que encontrei tudo o que eu precisava: esporte, lazer, convívio, auto-estima e esperança de sobrevida”, relata Fernanda Costa, mãe e empresária potiguar, de 37 anos.
Ela descobriu o seu primeiro câncer de mama bilateral aos 27 anos de idade, quando amamentava a sua filha. Passou dois anos fazendo tratamento oncológico, mas sempre com uma vida ativa – trabalhando, estudando para concurso e cuidando da família.
Depois de quase oito anos de curada, apareceu um novo diagnóstico de câncer e Fernanda teve que enfrentar mais um longo tratamento. Dessa vez, precisou fazer a mastectomia radical, ficando longo período sem a mama esquerda. Curada e reconstruída, Fernanda se tornou capitã do Fênix Potiguar (Remadoras de Peito) – time de dragon boat do Rio Grande do Norte.
“Depois que conheci o movimento aqui no Brasil, logo me identifiquei e de cara me apaixonei, pois ele é formado por sobreviventes, voltado para sobreviventes do câncer de mama. E liderar essa equipe foi um presente, uma missão que estou muito grata”, agradece Fernanda.
Ela não fala apenas da prática da canoagem e da equipe formada para este fim, em Natal. Fernanda se refere também ao movimento criado a partir da descoberta dos benefícios do esporte para o câncer de mama, no Canadá: o ‘Dragon Boat’, ou barco do dragão em português.
Esta nova modalidade da canoagem, que simboliza as ‘remadoras rosas’ (rosa foi a cor adotada para simbolizar a luta contra o câncer de mama), é praticado por mais de 250 equipes, em 32 países, coordenadas pelo IBCPC (Internacional Breast Cancer Paddlers Comission).
O barco do dragão comporta até 22 mulheres, mas no RN a equipe Fênix Potiguar ainda não conseguiu a embarcação. “Ainda não temos uma embarcação apropriada como remadoras rosas, que é o ‘Dragon Boat’. Essa embarcação é fundamental para que possamos competir em eventos nacionais e internacionais como remadoras sobreviventes do câncer de mama”, revela a capitã Fernanda.
Por enquanto, elas treinam no Rio Potengi em embarcações comuns da canoagem, que comportam até seis atletas. Os interessados em colaborar com o time potiguar para a compra da tão sonhada embarcação devem entrar em contato pelo Instagram: @remadorasfenix.
‘Dragon Boat’ no Brasil
Esta nova modalidade da canoagem, específica para mulheres com câncer de mama, foi idealizada, no Brasil, em 2014 e oficializada em 2016.
Atualmente, existem 21 equipes espalhadas em todas as regiões do país. E a modalidade já foi reconhecida pela Confederação Brasileira de Canoagem – CBCa.
Mais informações podem ser encontradas nos sites www.canoagem.org.br ou www.peitoaberto.org.br.
Pesquisa do Doutor McKenzie
Para conduzir sua pesquisa, o médico Donald McKenzie utilizou uma modalidade de canoagem denominada ‘Dragon Boat’, cujos exercícios são intensos e repetitivos. Assim, foram convocadas 24 voluntárias que passaram pelo tratamento da doença entre seus 32 e 64 anos.
Esse programa durou seis meses. Foram três meses de exercícios físicos em academia, mais três meses de remada em Dragon Boat. Ao chegar no final do programa, constatou-se que nenhuma das voluntárias desenvolveu linfedema. Com isso, foi possível comprovar como a canoagem é benéfica às pacientes, pois seus movimentos atuam como uma espécie de drenagem linfática natural, favorecendo a prevenção do linfedema.
O resultado da pesquisa foi tão promissor que o grupo de voluntárias se tornou a primeira equipe de Dragon Boat de sobreviventes de câncer de mama do mundo.
Benefícios da prática da canoagem Dragon Boat:
– Redução dos inchaços, dores e sensação de peso nos braços;
– Manutenção do peso;
– Fortalecimento e elasticidade dos músculos do corpo;
– Fortalecimento da resistência física;
– Prevenção e controle de linfedemas;
– Aumento da autoestima e alívio do estresse.