Futebol, meus caros, não é só um jogo: é a nossa mais autêntica tragédia grega, encenada a céu aberto, onde heróis e vilões trocam de máscara a cada chute. Num país em que todo dia é um palco de derrotas cotidianas, é a velha bola, surrada de esperança, que faz do brasileiro um personagem maior que seus próprios infortúnios. Que outro esporte permite a um menino de favela escrever, em gramados improvisados, a epopéia de um país inteiro?
Aqui, neste chão de chuteiras, a democracia é real, e rara. O futebol não tem cor nem carteira: faz do favelado e do doutor, do branco e do negro, do menino e do velho, súditos da mesma emoção. Ali, dentro das quatro linhas, ricos e pobres se fundem num só grito, numa só paixão irracional. Não há censura para quem sonha: todos são livres, todos podem ser gênio ou pereba, todos participam do milagre.
E por falar em milagre, há um quase obscuro, quase esquecido, que celebramos hoje. No longínquo 19 de julho de 1900, no Sul que o Brasil costuma esquecer, nascia o Sport Club Rio Grande. Por isso, em 1976, deram-lhe a dignidade do Dia Nacional do Futebol. Não pelas multidões, não pelos títulos, mas porque uma paixão assim merece datas de altar e procissão.
No Brasil, o futebol é mais que cultura: é destino. A cada domingo, ressurgimos das cinzas, acreditando no impossível, amando o improvável. Nosso drama, nossa redenção, nosso abraço fraterno. Não se explica o futebol para quem não sente – e só quem já chorou por um gol no último minuto sabe que ali, e só ali, o Brasil é inteiro, verdadeiro, indivisível.