Você foi à academia, encarou um treino novo ou mais intenso, e no dia seguinte sente aquele desconforto muscular. Será que é normal? A resposta é: depende. A dor muscular de início tardio — aquela que aparece horas depois do exercício — é comum, mas precisa ser compreendida para não ser confundida com lesões.
Segundo Ednhnam Pinheiro, profissional de educação física da Bodytech Tirol, em Natal, a dor muscular de início tardio costuma aparecer entre 12h e 48h após o treino, principalmente quando o corpo é submetido a um novo estímulo — como a retomada dos exercícios depois de um tempo parado, a troca de modalidade ou a mudança no tipo de treino.
“Ela ocorre com mais frequência nos treinos que enfatizam a fase excêntrica do movimento, como quando seguramos a descida do exercício. Isso gera microlesões nas fibras musculares, o que é natural no processo de adaptação muscular”, explica. A boa notícia, segundo ele, é que essa dor diminui significativamente após o corpo se readaptar – e até melhora quando a pessoa volta a se exercitar.
Apesar de muitos acreditarem que a dor pós-treino é sinal de treino eficaz, Ednhnam alerta: “não há relação direta entre dor e resultado. A dor apenas indica que você fez algo diferente do que seu corpo estava acostumado”.
Para aliviar o desconforto, ele recomenda técnicas de automassagem com bolas de liberação ou rolos de espuma. Além disso, destaca a importância de respeitar os limites do corpo: “Se você consegue fazer o movimento sem dor limitante, pode treinar. Se o movimento está impossível por dor intensa, o ideal é descansar”.
A fisioterapeuta Priscila Costa complementa o olhar com o ponto de vista clínico. Ela destaca que a dor muscular tardia é leve a moderada, difusa, e melhora com o movimento. Já a dor de lesão costuma ser localizada, imediata e intensa, podendo vir acompanhada de inchaço, hematomas e até perda de força.
“Quando a dor persiste mesmo após descanso, alimentação adequada, hidratação e orientação, é preciso investigar. Muitas vezes achamos que é só uma dor muscular, mas já pode ser uma lesão em estágio inicial”, explica.
Segundo ela, lesões musculares, tendíneas e ligamentares são as mais confundidas com dores de adaptação, e mascarar essas dores é um erro comum — e perigoso. “Treinar com dor pode agravar o problema, gerar compensações e até lesões secundárias. Isso compromete o desempenho e torna o tratamento mais longo”, alerta.
Se a dor se torna constante ou incomoda mesmo com bons hábitos, é hora de procurar ajuda. “Talvez seja necessário investigar outras questões, como qualidade do sono, taxas hormonais, vitaminas e até sensibilização do sistema nervoso. A fisioterapia preventiva pode atuar nessas frentes, para além do tratamento para lesões, ajuda a identificar desequilíbrios de força, mobilidade e postura que, com o tempo, podem gerar dor. É uma aliada não só para quem sente dor, mas também para quem quer melhorar a performance e evitar problemas futuros”, conclui.