Por André Rosas
Especialista em Psicologia do Esporte e Treinamento Esportivo; e Terapeuta (TRG)
O esporte, ao ser compreendido como uma prática educativa, ultrapassa os limites do desempenho físico ou da simples competição. Ele se transforma em uma potente ferramenta de formação integral do ser humano, contribuindo significativamente para o desenvolvimento físico, psicológico e social. Nesse sentido, a prática esportiva não se restringe apenas ao corpo, mas atua também na mente e nas relações interpessoais, sendo capaz de transformar vidas, especialmente quando inserida em contextos pedagógicos bem estruturados.
A frase “O esporte como prática educativa refere-se ao potencial que o esporte tem de desenvolver o indivíduo de forma global, possibilitando o desenvolvimento físico, psicológico e social” sintetiza essa visão abrangente e humanizadora do esporte. Ao ser inserido no cotidiano escolar ou em programas sociais com intencionalidade pedagógica, o esporte pode favorecer o trabalho em equipe, o respeito às regras, a superação de limites e o autocontrole emocional, elementos fundamentais na formação cidadã.
Neste cenário, a psicomotricidade emerge como uma importante aliada, pois oferece uma abordagem que compreende o ser humano de forma integrada. A psicomotricidade busca compreender a interação entre os aspectos cognitivos, emocionais, sociais e motores do desenvolvimento humano. Ela reconhece que o corpo é a base de toda a experiência humana e que, por meio do movimento, o indivíduo estabelece contato com o mundo, constrói conhecimentos e desenvolve sua identidade.
Conforme apontado por Fernandes e Gutierres Filho (2023), a psicomotricidade propõe uma atuação que vai além da reabilitação motora, atuando também na prevenção e no estímulo ao desenvolvimento global da criança e do adolescente. A articulação entre corpo e mente é vista como um eixo fundamental para o crescimento saudável, o que dialoga diretamente com a proposta do esporte como ferramenta educativa.
A relação entre esporte e psicomotricidade se estabelece, então, de maneira complementar. Enquanto o esporte oferece o campo da prática, do jogo simbólico e da interação social, a psicomotricidade fornece os fundamentos teóricos e práticos que garantem uma atuação mais consciente e efetiva, respeitando as etapas do desenvolvimento humano. Juntas, essas duas áreas podem contribuir significativamente para que o processo de ensino-aprendizagem seja mais dinâmico, inclusivo e transformador.
Além disso, quando o esporte é compreendido à luz da psicomotricidade, amplia-se a possibilidade de inclusão de crianças com dificuldades motoras, cognitivas ou emocionais. A prática esportiva, com intervenções psicomotoras adequadas, pode ser adaptada para respeitar o ritmo de cada sujeito, promovendo autoestima, autonomia e sentimento de pertencimento.
Isso mostra como o esporte pode ser um espaço de acolhimento e de valorização das diferenças.
Portanto, a interseção entre esporte e psicomotricidade representa uma abordagem inovadora e eficaz para promover o desenvolvimento integral do indivíduo. O corpo, ao ser valorizado como lugar de expressão, aprendizagem e interação, assume seu papel central na formação humana. Cabe aos educadores, profissionais da saúde e demais agentes sociais reconhecerem e potencializarem esse elo, garantindo práticas esportivas mais conscientes, inclusivas e transformadoras.
Referência:
FERNANDES, J.; GUTIERRES FILHO, P. Um olhar sobre a psicomotricidade. Psicologia e Saúde em debate, v. 9, n. 1, p. 85-93, 2023.