Por Gisele Scalo*
Com o término das Olimpíadas, é natural que o foco no esporte se dissipe entre o público em geral, deixando o tema voltado principalmente para os profissionais da área. No entanto, após o time brasileiro retornar para casa com 20 medalhas, incluindo três ouros conquistados com grande esforço, esse é o momento ideal para refletirmos sobre o legado que a competição deixa, especialmente para o mundo corporativo.
Embora possa parecer difícil ver a conexão, por exemplo, entre a conquista do ouro no judô feminino e a rotina de um líder empresarial, há lições no tatame, na quadra ou no ginásio que podem ser aplicadas nos escritórios. Por exemplo, a liderança e o apoio do gestor são fundamentais tanto para o atleta quanto para o colaborador de uma multinacional. Não é à toa que as ginastas rítmicas costumam aguardar suas notas na companhia de seus técnicos, buscando apoio no momento na competição. Mas tal comportamento ainda é um desafio no Brasil, principalmente com o surgimento das novas gerações, que trazem consigo conflitos identitários e culturais. A pesquisa “O Cenário do RH no Brasil”, realizada em parceria entre a ABRH Brasil e a HR Tech Umanni, indicou que apenas 32,6% dos profissionais brasileiros acreditam que as lideranças estão preparadas para os desafios de gestão de pessoas.
Mas por que isso acontece? Muitos profissionais têm desempenho técnico excepcional, mas frequentemente carecem das habilidades necessárias para liderar e desenvolver equipes de forma eficaz, o que evidencia a importância do desenvolvimento contínuo em gestão de pessoas. Lidar com a diversidade de habilidades e expectativas dentro das equipes exige uma abordagem personalizada para atender às necessidades individuais, equilibrando com as necessidades do grupo e do negócio. Outro ponto é a rápida evolução tecnológica e as mudanças nas dinâmicas de trabalho, como o remoto e o híbrido, que demandam novas habilidades de gestão e adaptação.
Os desafios não são poucos, mas, assim como no esporte, o líder corporativo precisa encontrar um equilíbrio entre o foco em resultados e o investimento em desenvolvimento de pessoas, além de manter um compromisso com a formação contínua e a adaptação às mudanças que surgem a todo momento. Podemos dizer que gestores são “atletas corporativos”, sempre de olho no alto rendimento, buscando as melhores táticas e estratégias para jogar dentro dos ambientes de negócios, com trabalho em equipe, organização e adaptabilidade para enfrentar os diferentes desafios. Além disso, é preciso ter persistência e disciplina para poder subir ao pódio garantindo que o caminho foi traçado com sólidos princípios de ética e integridade.
Os jogos de Paris também deram luz à importância da diversidade. Nossas principais medalhas foram conquistadas por mulheres negras, destacando a relevância de montar equipes diversas e livres de qualquer preconceito que possa atrasar a chegada ou ofuscar o brilho de novos talentos. Nesse sentido, é dever do gestor superar desafios geracionais e culturais, criando uma equipe coesa, democrática e inclusiva, que ofereça oportunidades para todos.
Essas olimpíadas mostraram que líderes empresariais podem aprender com os atletas de alto desempenho, especialmente no que diz respeito à persistência, à disciplina e à capacidade de adaptação. Mais do que nunca, as empresas precisam adotar esses princípios para criar ambientes de trabalho inclusivos e orientados para resultados de forma íntegra. Ao fazer isso, os profissionais estarão garantindo não apenas a excelência de seus projetos, mas também o desenvolvimento contínuo de suas equipes, preparadas para se reinventar em um mundo em constante mutação, seja nos esportes ou no mercado de trabalho.
*Gisele Scalo é diretora de Gestão de Pessoas na SONDA Brasil, líder regional em Transformação Digital.