A agonia de Gustavo Borges em Barcelona 1992

FOTO: Arquivo Pessoal

Por Kolberg Luna*

Em Barcelona/1992, antes da prova de 100 metros nado livre, a mais tradicional prova da natação, a expectativa era para saber quem ficaria com a prata e o bronze.

O ouro já era dado como certo para o americano Matt Biondi, que detinha os recordes, mundial e olímpico, da prova e era chamado de “Peixe Voador”.

Os especialistas diziam que o pódio seria completado por três atletas potenciais: o russo Alexander Popov, o francês Stephan Caron e o americano Jon Olsen.

O Brasil tinha um representante naquela prova: Gustavo Borges, 19 anos e 2,03 metros, era o detentor de três recordes sul-americanos, nos 50, 100 e 200 metros, e chegou aquela final com o segundo melhor tempo de todas as séries.

A chegada foi emocionante e os brasileiros festejavam uma prata ou um bronze. Porém, ao ser anunciado o resultado no placar eletrônico, Gustavo Borges estava com a sigla DQ (desclassificação).

Todos ainda sem entender, o placar mostrou a marca de 1min02s04, deixando Gustavo em último. Mas não foi isso que se viu ao fim da prova.

Gustavo saiu da piscina, encostou-se a uma parede e começou a chorar como um menino decepcionado. Não entendia o que se passava.

Então surgiu a figura de Coaracy Nunes Filho (1938-2020), presidente da Federação Brasileira de Desportos Aquáticos. Ele desceu da arquibancada, dirigiu-se ao árbitro geral Sebastián Salinas (1918-2008), do Peru e protestou, exigindo a revisão.

Após a checagem das planilhas dos juízes com os tempos da cronometragem manual, surgiu no placar uma nova marca para Gustavo. Com 49s53 ele ficara empatado em quarto lugar, justamente com Matt Biondi, o tal bicho-papão.

Coaracy Filho bateu o pé e disse que estava tudo errado, exigindo nova revisão. As dúvidas persistiam e o resultado não foi homologado. Os juízes se reuniram para assistir o teipe de toda a prova, com ênfase para a chegada, que foi passada quadro a quadro, quando então se corrigiu o tempo de Gustavo para 49s43, o que lhe garantiu a medalha de prata, um novo recorde sul-americano e o pódio garantido.

O ouro ficou para o russo Alexander Popov (49s02) e o bronze para o francês Stephan Caron (49s50). Pela primeira vez na história das Olimpíadas – à exceção do boicote em 1980 – os Estados Unidos ficaram de fora do pódio nos 100 metros livre.

Dados de pesquisa: Brasileiros Olímpicos (Lédio Carmona, Jorge Luiz Rodrigues e Tiago Petrik).

*Servidor público, Bacharel em Direito, jornalista e escritor, Kolberg Luna empresta seu vasto conhecimento sobre pesquisa, história e curiosidades do esporte, como colaborador do BE.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *