*Por Rafael de Souza Farias e Pedro César Sousa Oliveira
A educação em valores éticos ainda é um desafio que pode ser sentido nas esferas públicas e privadas da sociedade brasileira. Enquanto parte da população ainda relativiza atos antiéticos, a rápida popularização do compliance demonstra uma resistência a esse discurso, especialmente no ambiente corporativo, com a recorrência da conscientização contra assédios sexuais e fraudes generalizadas.
No entanto, a construção de uma cultura ética ainda se mostra distante do ambiente dos clubes futebolísticos, nos quais torcedores e profissionais regularmente abraçam um comportamento antiético como folclórico e saudosista, como se o futebol dispensasse comportamentos éticos e morais.
Assim como o mercado caminhou de modo involuntário para as diretrizes de conformidade, o futebol dá passos largos neste sentido, pois atualmente o que se vê é um modelo associativo que está se transformando rapidamente num modelo similar ao corporativo, no qual o time vira uma empresa e a paixão torna-se um business.
Isso significa que as recém fundadas companhias precisam atender termos de conformidade, auditorias e ESG (Ambiental, Social e Governança). para manter seu valor de mercado e garantir que seus stakeholders estejam amparados dos riscos dos negócios. Em se tratando das atitudes individualizadas de jogadores, por exemplo, que possuem superexposição na mídia, há impacto direto no faturamento da empresa, ou seja, do clube.
Mesmo diante de um conflito geracional acerca do entendimento sobre o que é aceitável ou não, há clareza que más atitudes extracampo resultam em prejuízo para o time, atletas e marcas envolvidas. No Brasil, não faltam exemplos de como o mercado como um todo se coloca diante de situações inconformes: contratações barradas de jogadores e técnico em razão de processo judicial internacional em curso, assim como boicotes em decorrência de envolvimento com casas de apostas, entre outros exemplos.
Diante dessa nova realidade para o esporte, cabe aos clubes o desenvolvimento de uma cultura ética para os seus novos atletas. Assim como empresas internacionais exigem selos de conformidade ambiental-social de seus fornecedores nacionais, um processo educativo nas categorias de base esportivas resguarda o atleta, seu clube formador e eventuais interessados na comercialização de seu passe.
A construção de habilidades éticas para o exercício do respeito, da responsabilidade e da integridade ajuda na formação de pessoas capazes de encarar dilemas dentro da carreira ou fora dela, além de melhorar a reputação do clube.
Para se obter o reconhecimento internacional como um clube-formador é preciso um esforço integral de toda a equipe, desde aqueles que cuidam da parte física, passando pela equipe psicopedagógica e até a publicidade, que pode atrair novos investidores.
A cultura ética deve ser uma constante em nosso cotidiano. Toda a sociedade tem a ganhar com o ensino ético na juventude dos futuros cidadãos e os clubes podem ter papel ativo no desenvolvimento dessa nova realidade.
*Rafael de Souza Farias é consultor pleno de Auditoria Interna e Assessoria Financeira da Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, ESG, auditoria interna, investigação, proteção e privacidade de dados.
*Pedro César Sousa Oliveira é advogado e consultor sênior de Inteligência Corporativa na Aliant, empresa especializada em soluções para Governança, Compliance, Ética, Privacidade e ESG.