*Por Ivan Ballester, CEO e fundador da Esporte Educa
A recente parceria entre o Real Madrid, Taylor Swift e o acordo 70-30 proporciona lições valiosas para clubes brasileiros com arenas próprias. A principal delas é a importância da diversificação de receitas. O Real Madrid transformou o Santiago Bernabéu em um espaço multifuncional, capaz de sediar grandes shows e eventos, o que aumenta significativamente a rentabilidade do estádio. Aqui no Brasil, clubes como Palmeiras, Corinthians, Atlético Paranaense e Atlético Mineiro, com a MRV Arena, podem seguir o exemplo ao promover eventos não esportivos para maximizar o uso de suas instalações.
Recorrentemente, quase toda semana, somos bombardeados com notícias de clubes brasileiros que pretendem tirar suas arenas próprias do papel e, em alguns casos, até maquetes e vídeos 3D são publicados. Esses clubes, que têm a pretensão de criar um novo estádio do zero, podem levar em conta o que seus rivais que saíram na frente com suas construções aprenderam, e reproduzir o que deu certo e fazer diferente com o que deu errado.
O modelo adotado pelo maior clube do mundo, o acordo 70-30, pode ser uma referência para projetar novas receitas, realizar acordos antes mesmo de a arena ficar pronta e garantir previsibilidade na projeção de receitas e fluxo de caixa. Isso torna o projeto mais sustentável e benéfico para elevar o clube a outro patamar, como diria Bruno Henrique, jogador do Flamengo, e evitar problemas como os enfrentados pelo Corinthians com a Neo Química Arena. Este, segundo apurações em várias fontes, atualmente enfrenta uma dívida de aproximadamente R$ 700 milhões com a Caixa Econômica Federal.
O Modelo do Acordo 70-30 feito por Florentino Pérez
O acordo do Real Madrid com a Sixth Street e a Legends Hospitality, que garante 70% da receita de eventos para o clube, é um modelo de negócio inteligente. Além disso, a parceria inclui um adiantamento de 360 milhões de Euros da Sixth Street e da Legends Hospitality, proporcionando um fluxo de caixa imediato para financiar a modernização do estádio. Este adiantamento não só gera sustentabilidade e crescimento contínuo, mas também evita possíveis atrasos de parcelas futuras ou até mesmo inadimplência, problemas comuns no mercado de patrocínio esportivo no Brasil.
Por exemplo, o Palmeiras enfrentou atrasos de pagamentos com a WTorre, a construtora do Allianz Parque, destacando a importância de acordos financeiros sólidos. Este acordo entre os Merengues e Sixth Street/Legends Hospitality tem duração de 20 anos, proporcionando estabilidade e previsibilidade financeira a longo prazo.
A receita total dos concertos de Taylor Swift no Santiago Bernabéu foi de 13 milhões de Euros. Aplicando o acordo 70-30, o Real Madrid ficou com 9,1 milhões de Euros. Esse tipo de arranjo financeiro mostra como clubes brasileiros podem aumentar suas receitas substancialmente através de parcerias estratégicas. Se o Real Madrid já era o maior time do mundo com diversas receitas e poderio econômico, imagine agora com mais essa fonte de renda o que está por vir.
A realidade brasileira dos clubes detentores de Arenas
No cenário brasileiro, a construção de arenas pelos clubes não segue uma receita pronta de “CTRL C + CTRL V”. Cada clube adota um modelo diferente de acordo com o que cada diretoria e conselho julga ser a melhor e mais viável parceria comercial para viabilização do projeto.
Esses projetos são de longo prazo e precisam ser estudados minuciosamente por profissionais de imóveis, finanças, entretenimento, esportes e gestão. Assim como em investimentos tradicionais, o retorno financeiro pode ser pequeno no curto prazo, mas, a longo prazo, eles podem se transformar em uma “bola de neve do bem”, gerando receitas crescentes e sustentáveis. Um resumo Arenas Privadas no Brasil:
Palmeiras – Allianz Parque: O Palmeiras firmou uma parceria com a WTorre, responsável pela construção e administração da arena. O clube recebe uma porcentagem das receitas geradas pelos eventos realizados no Allianz Parque.
Corinthians – Neo Química Arena: A construção foi viabilizada por um financiamento da Caixa Econômica Federal e apoio da Odebrecht. A venda dos naming rights – ou direito sobre a propriedade de nomes – para a Hypera Pharma, no valor de R$ 300 milhões, ajudou a reduzir a dívida.
Athletico Paranaense – Ligga Arena: Recentemente renomeada Ligga Arena, anteriormente conhecida como Arena da Baixada, o Athletico Paranaense firmou um novo acordo de naming rights com a Ligga, empresa de tecnologia e telecomunicações, após o término do contrato com a CAP S/A. A arena foi modernizada utilizando recursos próprios e parcerias com empresas locais, e agora a parceria com a Ligga proporciona novos investimentos e oportunidades de eventos diversificados.
Atlético Mineiro – MRV Arena: O Atlético Mineiro contou com o patrocínio da MRV Engenharia, que adquiriu os naming rights da arena. A construção está sendo financiada por meio de uma combinação de recursos próprios, venda de imóveis e doações de torcedores.
O Caso Pacaembu e Mercado Livre
Embora não seja de um clube, o Pacaembu, tradicional estádio paulistano, passou por um processo de concessão à iniciativa privada. A empresa Allegra Pacaembu, em parceria com o Mercado Livre, assumiu a gestão e modernização do espaço. O projeto prevê a transformação do Pacaembu em um complexo multifuncional que vai além dos eventos esportivos, incluindo áreas de lazer, cultura e entretenimento.
Entretenimento, cultura e esporte são alianças poderosas que se potencializam mutuamente, criando um espaço vibrante e diversificado que atrai diversos públicos e multiplica as fontes de receita. A parceria visa revitalizar o Pacaembu, mantendo sua tradição esportiva e explorando novas fontes de receita.
Vários clubes poderão usar o Pacaembu como opção alternativa para mandar seus jogos. O Santos pode usar o estádio para se aproximar do público da capital, o Palmeiras pode mandar jogos por lá quando o Allianz Parque estiver ocupado com shows, e clubes como o Red Bull Bragantino podem utilizar o Pacaembu para fortalecer sua presença em São Paulo e atrair novas gerações de torcedores.
A análise das estratégias de diversificação de receitas, parcerias estratégicas e gestão profissional adotadas pelo Real Madrid oferece um modelo robusto que pode ser adaptado pelos clubes brasileiros para maximizar o potencial de suas arenas. O sucesso do acordo 70-30 entre o Real Madrid, a Sixth Street e a Legends Hospitality, inclui um adiantamento substancial e um plano de longo prazo, e demonstra a importância de criar parcerias que garantam sustentabilidade e crescimento financeiro contínuo, evitando problemas de inadimplência comuns no mercado brasileiro. A experiência do Palmeiras com atrasos de pagamentos da WTorre para o Allianz Parque ilustra a necessidade de acordos financeiros sólidos.
No Brasil, cada clube deve considerar suas particularidades e desenvolver um modelo de negócio personalizado, aprendendo com os exemplos de sucesso dos clubes que já têm arenas modernas e funcionais. Tanto Palmeiras, Corinthians, Atlético Paranaense e o Atlético Mineiro mostraram que parcerias estratégicas podem viabilizar projetos ambiciosos, desde que bem planejados e executados. É essencial levar em conta o modelo de parceria de cada clube e o que os contratos e cláusulas jurídicas permitem fazer para se espelhar no Real Madrid. As lições e insights deste artigo não propõem uma cópia exata dessa parceria no âmbito brasileiro, mas sim uma adaptação à realidade de cada clube.
O caso do Pacaembu, mesmo não sendo de um clube específico, destaca a importância de parcerias público-privadas e a criação de espaços multifuncionais que atendam a diversas necessidades, desde o esporte até o entretenimento e a cultura. Isso cria uma experiência mais rica para os torcedores e usuários, além de garantir múltiplas fontes de receita.
Adotar uma visão de longo prazo, investir em gestão profissional e buscar parcerias estratégicas são passos fundamentais para transformar arenas em centros lucrativos e multifuncionais. Com planejamento adequado, os clubes brasileiros podem garantir um futuro financeiro mais sólido e sustentável, elevando o nível do futebol no país e proporcionando experiências inesquecíveis para seus torcedores.
O que você pensa sobre estádios – ou espaços que anteriormente eram destinados exclusivamente a eventos esportivos – serem utilizados para outras atividades?
*Artigo de autoria de Ivan Ballester, CEO e fundador da Esporte Educa – a primeira EduSportech brasileira com foco em reescrever a relação do esporte com a educação dentro do país. Fundada no final de 2020, em meio à pandemia, a Esporte Educa já avaliou mais de 3.000 esportistas e encaminhou 540 deles para instituições de ensino brasileiras. Com a Esporte Educa Prime, a EduSportech visa preparar atletas com treinamentos em soft skills para melhorar o desempenho pessoal dentro e fora de campos e quadras.