A torcida brasileira ouviu o hino nacional e viu a bandeira do Brasil tremular no alto do pódio pela primeira vez em um Mundial de Ginástica Artística graças à Daiane dos Santos.
Primeira campeã mundial da ginástica artística brasileira, ouro no solo em Anaheim 2003, a gaúcha receberá o Troféu Adhemar Ferreira da Silva, destinado a atletas e ex-atletas que representem os valores que marcaram a carreira e a vida do bicampeão olímpico no salto triplo como ética, eficiência técnica e física, esportividade, respeito ao próximo, companheirismo e espírito coletivo.
E Daiane, inspiração para a campeã olímpica e mundial Rebeca Andrade, representa muito bem esses valores, agora através do seu projeto social “Brasileirinhos”. Ela receberá a homenagem durante o Prêmio Brasil Olímpico (PBO), na próxima quinta-feira (2), na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro.
“É com grande honra que recebo o Troféu Adhemar Ferreira da Silva, uma das maiores honrarias do esporte olímpico brasileiro. Me sinto muito grata por ter sido escolhida pelo COB para receber essa homenagem para pessoas que não fazem parte mais diretamente do dia a dia do esporte de alto rendimento. É um prêmio que vai além dos feitos esportivos e, por isso, poder hoje ser considerada uma referência, é um grande presente. Não consigo nem descrever a sensação, é uma gratidão imensa a todos que me ajudaram durante toda a caminhada”, disse a ex-ginasta.
Duplo twist carpado
Daiane sempre teve o solo como especialidade, aparelho em que se tornou um dos principais nomes da modalidade no início do século 21. Em parceria com o treinador ucraniano Oleg Ostapenko, a ginasta realizou pela primeira vez dois movimentos que foram eternizados pela Federação Internacional de Ginástica (FIG) e hoje levam o seu nome: o duplo twist carpado (Dos Santos I) e o duplo twist esticado (Dos Santos II).
“Acho muito bacana ter dois exercícios com o nome da minha família. É uma homenagem a tudo que eles fizeram por mim como atleta. E não é só à família ‘Dos Santos’, mas para todos os brasileiros, já que são vários ‘Dos Santos’ espalhados pelos quatro cantos do país. É uma honra e está marcado não só para mim, mas também para todos os treinadores que me ajudaram a conseguir fazer os movimentos. É um presente”, comentou.
Trajetória
A primeira vez de Daiane dos Santos com a camisa do Time Brasil em uma grande competição internacional foi nos Jogo Sul-americanos de Cuenca 1998. Com apenas 15 anos, ela conquistou três medalhas e começou ali a despontar como grande representante da ginástica artística nacional.
No Mundial de 2003, Daiane derrotou a favorita romena Catalina Ponor, que levaria o ouro em Atenas 2004, no solo. Daiane participou de outras quatro edições de Mundiais e tem nove medalhas de ouro em etapas da Copa do Mundo.
Somando as participações nos Jogos Pan-americanos Winnipeg 1999, Santo Domingo 2003 e Rio 2007, a ginasta possui cinco medalhas: duas de prata e três de bronze. Daiane também disputou três Jogos Olímpicos. Em Atenas 2004, terminou na 5ª colocação no solo.
Em Pequim 2008, disputou a final por equipes, a primeira coletiva da história do Brasil na modalidade, e no solo, em que ficou na oitava colocação. E em Londres 2012, ficou na 12ª colocação com a equipe feminina, competição que marcou sua despedida do alto rendimento.
A homenagem do Comitê Olímpico do Brasil com a entrega do Troféu Adhemar Ferreira da Silva se junta a outra que Daiane receberá em breve.
Toda a trajetória dela, marcada pela superação de adversidades e de conquistas, como ser a primeira mulher negra do mundo a chegar ao lugar mais alto do pódio no solo da ginástica artística, será contada em um filme longa metragem ficcional, ainda sem data definida para lançamento. Uma digna homenagem a quem segue inspirando outras gerações de ginastas.
“Tive a honra e a satisfação de ter sido inspirada por outras grandes mulheres como Luísa Parente e Soraya Carvalho dentro do meu esporte diretamente. Contei com o apoio de muitas pessoas, da minha família e dos meus treinadores, principalmente do Kiko (Burtet), da Adri (Adriana Alves) e do Oleg (Ostapenko) que trabalharam mais diretamente comigo. Acho que o mínimo que posso fazer para retribuir tudo que eu recebi do esporte – oportunidades de mudança de vida e de vivenciar esse mundo incrível que é o esporte olímpico – é desejar que mais meninos e meninas possam ter essa oportunidade. É muito bom poder viver e entender que a gente tem esse papel na vida de outras pessoas”, concluiu.